sábado, 9 de julho de 2011

Jogos independentes: Da ousadia criativa ao renascimento dos clássicos

Em um período em que o mercado de jogos começa a ficar saturado, repleto de fórmulas e gêneros repetitivos, sempre reutilizados e explorados por diversos títulos das grandes produtoras, os jogos independentes ou indie games como também são conhecidos, desbravam territórios ignorados pelas empresas de maior prestígio.

O mercado hoje sofre com títulos sem criatividade, com grandes efeitos visuais, que contam principalmente com a marca da empresa e a força da série em que o jogo se encontra. Não podemos culpar as produtoras, uma vez que a produção de um jogo desse porte hoje, tem ainda um custo muito alto, e a opção por utilizar fórmulas repetidas, onde as vendas são mais certas, acaba sendo uma saída segura na recuperação do investimento feito.

Franquias como Call of Duty (Trevarch, Activision), Battlefield (DICE, Eletronic Arts), ou mesmo Medal of Honor (Eletronic Arts) são grandes títulos que utilizam temas idênticos, abordagens semelhantes e um estilo que os acompanha desde o início de cada uma das séries. Por possuírem um mercado garantido devido ao nome entre os jogos de mesmo gênero, eles acabam sendo explorados ao máximo.

Os MMORPGs sofrem hoje da mesma forma que os FPS, mesmo com novos lançamentos, a maioria dos MMOs acabam em um mercado de estilos saturados.

São poucas as empresas que inovam, contudo, onde os grandes desenvolvedores bestsellers, ocupados de mais visando lucros suficientes para sanar os investimentos feitos, falham, as produtoras independentes tornam-se uma nova esperança em termos criativos.

Cada dia que passa vemos jogos independentes sendo produzidos. Seu baixo custo, somado a uma equipe muitas vezes inexperiente, resultaram em uma fórmula inovadora, ousada e criativa. Jogos cuja mecânica são experimentais abrem portas para um mercado inexplorado, ignorados pela competição frenética entre gigantescas produções.

Jogos como The Path (Tale of Tales), baseado no conto da “Chapéuzinho Vermelho,” a história é narrada através de seis irmãs cujo objetivo é chegar na casa da avó, longe da cidade grande, cercada por uma imensa floresta. No jogo existe apenas uma regra, não se desviar do caminho, mas ela deve ser quebrada, e consequentemente você morre. The Path é mais que um jogo, é uma experiência visual, chegando a ser considerado um jogo arte por alguns. Com mecânica simples, basta o jogador caminhar pelo mapa, e o psicológico mais íntimo e sombrio de cada uma das meninas é revelada por cenários surreais e bizarros.

Winter Voices (Beyond the Pillars), um jogo independente dividido em sete episódios vendidos separadamente a um pequeno preço cada, também abre caminho pelo gênero experimental. Focado principalmente na história da personagem central que nasce em uma vila sem nome cercada por montanhas e gelo, abandonada pelo mundo e pela tecnologia, ela se depara com projeções de sua mente dividida entre a morte do pai com seu abandono a vila por uma vida de aventura.

Esses são apenas alguns dos mais variados exemplos que existem no mercado independente. Já outros títulos buscam reviver gêneros clássicos e esquecidos. Como é o caso de Shank (Klei, Eletronic Arts), um jogo de plataforma 2D sidescrolling. Com história simples e linear, repleto de inimigos, sangue, movimentos exagerados e sem comandos complexos, Shank revive um gênero clássico dos antigos consoles. A.R.E.S. Extinction Agenda (Extend Studio, OriGO GAMES) também é outro excelente exemplo, idêntico a série Mega Man (Capcom), ele conta com o mesmo estilo de plataforma 2D.

Ainda existem os jogos independentes que fizeram sucesso fora de seus países de origem. O localization – que consiste na tradução e compra de direitos de um jogo produzido em um país para ser comercializado em outro – de jogos independentes também são importantes. Recettear: An Item Shop's Tale (EasyGameStation, Carpe Fulgur LLC) é mais um jogo de incontáveis outros lançados independentemente no Japão. Alcançando o território ocidental, Recettear vendeu mais de 100 mil cópias, um feito difícil até mesmo para títulos mainstream. Contando com personagens carismáticos e história simples, porém muito engraçada, a premissa do jogo de RPG clássico é diferente dos demais. O jogador controla Recette, uma garota cujo pai foge de casa para se tornar um aventureiro deixando para trás uma grande dívida. Tear, uma fada que trabalha para a empresa de empréstimos cobra a dívida, mas sem ter como pagar, Recette e Tear se juntam para abrir uma loja de itens. O objetivo não é apenas cuidar da loja adquirindo o máximo de lucro, como também se aventurar nos calabouços aleatórios com heróis que podem ser contratados por Recette, oferecendo não apenas um clássico dungeon crawler, mas também uma forma divertida de ficar atrás de um balcão barganhando preços dos produtos a venda.

Podemos ainda colocar os webgames, cada vez mais abrangentes na internet com seus títulos casuais, produzidos por pequenas empresas ou até mesmo grupo de amigos.

Não importa o estilo. Seja ele experimental, reciclado ou mesmo híbrido, os jogos independentes conquistaram seu espaço no mercado de jogos, representados por um público que busca fórmulas criativas, diferentes e, principalmente, divertidas.



- O novo acesso ao mercado:



Mas por qual motivo os jogos independentes tornaram-se tão difundidos atualmente? Existem algumas explicações para a grande quantidade de jogos indie sendo lançados. A primeira e talvez a mais importante delas seja o advento do acesso a ferramentas de produção para jogos. Hoje temos um acesso muito maior a softwares de uso livres, ou que requerem apenas um pequeno custo de compra, baixando gastos que antes seriam inviáveis para qualquer desenvolvedora pequena. Engines como a UDK, por exemplo, se tornaram de uso livre, requerem apenas pequenos acordos com a Epic caso a empresa que a utiliza queira comercializar o produto. A XNA da Microsoft, tanto para PCs quanto para Xbox 360, é outro exemplo de ferramentas de uso livre que requerem pequenos acordos financeiros entre desenvolvedora e produtora da ferramenta.

Outro fator importante é a forma de distribuição dos jogos atuais. Com o advento da Live, PSN e WiiWare, produzir e distribuir jogos para consoles, algo impossível devido a custos ainda mais exorbitantes que produções para computadores, virou realidade não apenas para empresas independentes, como também para os grandes estúdios que começaram a produzir títulos “menores” e mais baratos, seguindo a linha dos indie. Temos ainda distribuidoras como a Steam, para PCs, a AppleStore ou Android Market para mobiles.

Com o advento de distribuidoras virtuais, a acessibilidade para pequenas empresas ou grupos de produtores divulgarem seus jogos, é hoje, mais do que nunca, uma possibilidade verdadeira. Trazendo ao mercado de jogos uma gama ainda maior de toda a sorte de gêneros, para todo o tipo de público. O que anos atrás era apenas um sonho, hoje é uma realidade. Com tamanhas oportunidades, os jogos independentes apresentam ousadia, inovação e diversão, indo muito além daquele território certo e já bastante explorado em que muitas das grandes empresas se acomodaram.

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